50 anos de prática social católica
Encíclica Mater et Magistra = mãe e mestra
Na verdade, a fórmula ver-julgar-agir resumiu claramente o "método de educação democrática" nos "círculos de estudo" "Cada cidadão deve conhecer o posição do povo. Quando a situação está mal, deve buscar soluções. E, finalmente, tendo encontrado as soluções, deve agir",
A riqueza desta encíclica está sobretudo em ter reconhecido, depois de tantos séculos de esquecimento, que não cabe à Igreja cuidar apenas da "santificação das almas”. É também seu dever preocupar-se "com as necessidades cotidianas
Na primeira parte da encíclica, o Papa João XXIII conclui afirmando a necessidade de precisar e dar mais clareza a esse tipo de ensinamento social, tendo presente os graves problemas sociais, etc.
Na segunda parte, João XXIII faz as precisações doutrinárias, esclarecendo temas como iniciativa privada, a intervenção do Estado, o salário do trabalhador, desigualdades e injustiças, etc.
Já nesta segunda parte encontramos uma verdadeira maneira que, apesar do tempo, conservam toda a sua atualidade.
Na terceira parte da encíclica o papa enfrenta aqueles que então ele considerava novos aspectos da questão social. O problema das relações entre agricultura e outros setores, com destaque para o êxodo rural.
Na quarta e última parte da encíclica, João XXIII oferece algumas diretrizes pastorais para a ação evangelizadora da Igreja. Partindo do princípio de que:
Deus é o fundamento necessário de uma ordem de justiça, o papa propõe em primeiro lugar que se cuide da formação e da educação dos católicos acerca dos princípios sociais cristãos.
Em seguida apresenta a base da ação social dos cristãos, enfatizando o papel dos leigos e das leigas. Insiste para que os leigos e as leigas não sejam afastados dos compromissos diretos com as questões sociais, mas, pelo contrário, sua atuação direta na sociedade e nas tarefas "temporais” deve "ser intensificada e levada a termo com sempre maior empenho”
A isso dá uma justificativa bíblico-teológica dizendo que Jesus não pediu ao Pai que os seus seguidores fossem tirados do mundo, mas que fossem livres do mundo (cf. Jo 17,15)
Valeria a pena, mesmo depois de tanto tempo, retomar o próprio conselho do papa, segundo o qual este documento não deveria ser apenas meditado, mas colocado em prática .
Pena que estejamos vivendo um tenebroso inverno na Igreja Católica e que a força do gelo e do frio esteja ocultando preciosidades como essas.
De fato, quase não se vê nenhum evento celebrativo do cinquentenário da encíclica,
É lamentável que isso esteja acontecendo, pois a Igreja, além de perder uma oportunidade para evangelizar, deixa de contribuir significativamente para o crescimento da justiça social no mundo. Certamente a meditação e a celebração dos cinquenta anos da Mater et Magistra trariam mais benefícios para a evangelização dos que certos pronunciamentos da hierarquia sobre determinados temas.
Pronunciamentos estes que, como já estamos cansados de saber, o povo não escuta mais e não leva mais a sério. Talvez escutasse se a Igreja não se omitisse diante de tantas outras questões como aquele da justiça social.
Diz João XXIII, citando o apóstolo Paulo, quem é "filho da luz” (Ef 5,8)
"percebe, sem dúvida, com maior nitidez, as exigências da justiça nos vários setores da atividade humana, mesmo onde são maiores as dificuldades geradas por um apego imoderado de tantos homens aos próprios interesses, à própria pátria ou à própria raça” .
Não valem quaisquer métodos, especialmente aqueles arcaicos e escolásticos.
Por isso, segundo João XXIII, o melhor método para a formação nos princípios da justiça social é aquele que depois foi consagrado pela Igreja latino-americana:
---conhecer a situação concreta, examinar essa realidade à luz da Palavra e da doutrina da Igreja e, por fim, agir "de acordo com as circunstâncias de tempo e de lugar.
Essas três etapas são comumente expressas pelas palavras ver, julgar, agir” (MM, 236).
Segundo o papa, é necessário não só conheçer esse método, mas o empreguem, concretamente, na medida do possível, das ideias abstratas, mas sejam traduzidos na prática” (MM, 237).
Um dos sinais mais evidentes do inverno tenebroso da atual Igreja, especialmente aqui na América Latina, é o ABORTO progressivo deste método.
Documentos recentes dos episcopados e das Igrejas locais revelam a intenção premeditada de enterrar definitivamente este precioso legado consagrado por um documento tão valioso do Magistério da Igreja.
É triste constatar o recuo evidente dos eclesiásticos nesta questão. E mais triste ainda é perceber quanto bem deixam de fazer com esse retrocesso. Porém, devemos conservar a esperança, sabendo que ninguém é dono DO Espírito de Deus que age "conforme ele quer” (1Cor 12,11).
Quem sabe, de repente, o Paráclito pode suscitar um novo Pentecostes na Igreja, enviando-nos alguém como João XXIII, capaz de sacudir a poeira de conservadorismo amontoada nos ambientes eclesiásticos.
Alguém que traga mais liberdade para dentro da Igreja, uma vez que "Cristo nos libertou para que sejamos verdadeiramente livres” (Gl 5,1). E "ninguém aprende a viver bem em liberdade, a não ser procurando usar bem da liberdade” (MM, 232). Vale, pois, concluir este breve texto com mais algumas palavras de João XXIII, que podem muito bem ser aplicadas também à situação atual da Igreja: o contraste entre "a perfeita dignidade dos perseguidos e a refinada crueldade dos perseguidores, se não fez com que estes caíssem em si, tem levado, entretanto, muitos homens à reflexão” (MM, 216). Portanto, vamos refletir bastante e estimular outros a fazerem a mesma coisa, pois "quem sabe faz a hora, não espera acontecer” (Geraldo Vandré).
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